terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Resistência


E por muito tempo eu tentei resistir, eu quis negar que eu te amava. Eu achei que assim, eu não sentiria a sua falta. Você foi o pior pai do mundo, você me frustrou quando disse que preferia viver um ano bebendo do que cinco anos sem beber. Você me magoou quando disse que se separou da minha avó porque você preferia as prostitutas. Você quase me perdeu quando meu pai me contou que ele praticamente não existia pra você. Isso é uma culpa que ele tem até hoje, você acha justo?
Eu tentei por muito tempo desistir de te amar, mas eu não consegui. A verdade é que, eu não consigo. Apesar de tudo, eu não quero mais desistir de você, eu apenas sonhava com um avô amigo, de família, que fizesse minha avó e os filhos felizes.
Eu espero que agora, bem no final de sua vida, você veja e perceba o quanto você me fez sofrer, e que no tempo que te resta você me dê um pouco de carinho, só pra eu poder te sentir de verdade.


Há pouco tempo me dei conta de que o tempo, passa. O ciclo da vida, a gente nasce, cresce, se reproduz e morre. A vida não é tão vaga assim. A gente dança, a gente ama, a gente sofre, a gente pensa, a gente dorme, a gente se envolve.
A gente se envolve, e quando a gente vai embora, morre, deixa na Terra sofrendo quem você cativou. E vocês, me cativaram. Olina e Oscar, que um dia foram unidos, se separaram.
Vô, você deixou aqui, sem nem saber, um coração partido. Uma menina de 11 anos, que nem sabia o que era a morte. Eu te amo e sinto sua falta. Você nem morava comigo, nem na minha cidade, a gente se encontrava no Natal e nos Almoços Familiares em que você vinha de Palmital. Eu amava quando eu te encontrava e você me chamava de “riqueza do vô”. São tempos que não voltam mais, e ninguém matará o amor que eu sinto por você.
Vó, eu odeio quando você liga o rádio nas suas músicas evangélicas durante o almoço. Eu acho muito mais gostoso quando você canta. Eu amo o seu cordeiro, eu amo a sua casa, eu amo você. Você me irrita muito, principalmente com seus assuntos, mas hoje eu me dei conta de que você está à beira da morte. Eu não quero que você morra, eu não quero que você me machuque. Vó, você não pode ir.
E eu não tenho como impedir, já não posso mais negar, que você vai me deixar, mas o meu amor por você, assim como o amor pelo meu avô, será infinito.